Esta é uma resenha traduzida e adaptada diretamente do site The Hollywood Reporter. A opinião exposta a seguir pertence ao autor original.

É consenso que a nova série da AMC, Fear The Walking Dead, já estreará com uma audiência cativa, oriunda de The Walking Dead.

E os fãs assistirão em massa. Considerando que quase 16 milhões de pessoas assistiram à final da 5ª temporada de The Walking Dead, dá para afirmar com certa segurança que a estreia de Fear The Walking Dead no dia 23 de agosto será um estouro. E a audiência para o segundo episódio – e provavelmente para todos os seis episódios que compõem esta temporada – será enorme, mesmo se não conseguir alcançar os números estratosféricos da série original.

Encontrar telespectadores não será um problema. O problema, que ficou evidente nos dois primeiros dois episódios que a AMC disponibilizou para crítica (juntamente com um vídeo do terceiro episódio, exibido na coletiva de imprensa da Television Critics Association), é que não há muita carnificina.

Na verdade, zumbis mesmo (que são chamados apenas de “infectados” ao invés do termo “walkers”) são mais escassos durante as duas primeiras horas, o que faz com que Fear The Walking Dead seja muito mais um drama tradicional até que a infecção desconhecida se espalhe.

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Ou seja, o primeiro episódio de 90 minutos e o segundo episódio de uma hora não são exatamente entediantes, mas certamente menos atraentes que a série original.

Dito isso, o ponto em que Fear The Walking Dead pode firmar e se destacar – não há motivos para ser idêntica à série original – é que a audiência estará vendo os eventos em outro ponto dos EUA, na Costa Oeste, especificamente em Los Angeles, e antes do momento em que Rick acorda no hospital de Atlanta, já em um apocalipse zumbi.

Não é exatamente um prequel, claro, mas dá aos fãs uma visão dos primeiros momentos do surto, como o mundo era e como ele lentamente começou a perceber que algo terrível estava acontecendo. Há um rico material dramático a ser explorado neste cenário e Fear The Walking Dead deverá trabalhar nisso em algum momento desses seis episódios.

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A sequência truncada do episódio compromete o desenvolvimento inicial da história, pois há alguns detalhes no episódio piloto que não podem ser ignorados. O produtor executivo, co-criador e showrunner Dave Erickson tem que introduzir todo o elenco novo, e isso demanda tempo.

Uma série funciona melhor quando a audiência conhece as pessoas envolvidas e pode torcer por eles ou contra eles.

Em Fear The Walking Dead seremos apresentados a dois professores de Los Angeles, que estão em um relacionamento: Madison (Kim Dickens) e Travis (Cliff Curtis), que não estão apenas envolvidos em seus trabalhos, mas também tentando convencer seus filhos que todos ainda são uma família, apenas se misturaram com outra família. Eles são adolescentes, então não é surpresa que eles estão incomodados com a ideia (o que também é um aborrecimento).

A filha de Madison, Alicia (Alycia Debnam-Carey), desaprova o relacionamento de sua mãe, enquanto o filho de Travis, Christopher (Lorenzo James Henrie), tem a mesma opinião, preferindo ficar com sua mãe, Liza (Elizabeth Rodriguez). Complicando a situação está o outro filho de Madison, Nick (Frank Dillane), que é viciado em heroína e além de qualquer socorro (pois ele não quer ser ajudado).

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O desafio de Erickson e seus companheiros de trabalho, o produtor executivo David Alpert e o diretor Adam Davidson, é criar um novo e diferente universo de The Walking Dead, onde a misteriosa infecção, que está em seus primeiros momentos, seja atraente o suficiente para manter o lento desenvolvimento dos novos personagens.

Isso não é uma tarefa fácil. Sem dúvida existem momentos nos primeiros episódios que não chegam nem perto do envolvimento da série original e, como os fãs querem ver zumbis, tudo fica parecendo como uma história capenga que já sabemos que está sendo contada de forma arrastada.

Contudo, o apelo dramático é duplicado: ver o que não foi visto antes – a confusão, seguidos do choque e por fim o caos dos primeiros dias; e, provavelmente, ainda mais importante, explorar (e brincar) com a ideia que os telespectadores sabem mais que os personagens de Fear The Walking Dead. Vê-los agindo de forma leviana quando deveriam estar correndo por suas vidas é ao mesmo tempo interessante e assustador.

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Erickson e os outros fazem um ótimo trabalho em explorar essa ingenuidade inicial e perigos, em que as pessoas permitem que os recém-infectados (já zumbificados, mas ainda não apodrecidos) se aproximem delas. Isso afeta os fãs de The Walking Dead que já sabem o que está a caminho, ao mesmo tempo que é um comportamento que faz sentido no contexto de Fear The Walking Dead. É tudo uma grande novidade – haverá erros e consequências.

Outro elemento que vale a pena ser explorado é a previsível, mas ainda assim perigosa, ideia que os personagens têm no começo de que a polícia ou o governo os protegeriam. Confiança em instituições que estão prestes a desmoronar é algo lógico neste momento. Além disso, os personagens de Fear The Walking Dead acreditam que qualquer que seja o surto, ele será contido. Novamente, saber mais que os personagens principais é intrigante e gera reações diferentes.

As pessoas em Fear The Walking Dead baseiam suas ações na ideia de que tudo vai passar e os diretores trabalham duro para expor esta crença, que não é parte de The Walking Dead.

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Mas ninguém disse que o lento desenrolar dos problemas seria particularmente fácil de ser mostrado ou fascinante. Afinal ele é, como já foi dito, lento.

Contudo, após passar a sofrida introdução dos personagens – três deles, incluindo o personagem de Ruben Blades, apresentados no segundo episódio – Fear The Walking Dead pode começar a desenvolver seu potencial (e teremos 15 episódios para a já confirmada 2ª temporada).

Os primeiros episódios deixam as dicas das consequências da ignorância, criando cenas que farão com que os fãs de The Walking Dead fiquem na expectativa. Em uma delas, uma garota abraça o namorado infectado, que está prestes a se transformar, sendo que ela nunca viu isso antes.

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Andando muito perto de zumbis ou prestando socorros a pessoas que foram mordidas e então andando de carro com elas são algumas das formas que Erickson usa para desenvolver a tensão – além de uma perversa pitada de senso de humor.

Os atores Dickens e Curtis brilham nos primeiros episódios. As ações de Madison indicam que ela será uma sobrevivente a qualquer custo e Travis mostra uma certa desenvoltura típica de Rick Grimes.

Mas Fear The Walking Dead tem outros obstáculos. Adolescentes são sempre chatos em séries de TV e aqui não é diferente. Eles simplesmente fazem coisas idiotas. Algumas atitudes são esperadas, claro, mas outras não. E Fear não é imune a pais que não compartilham informações cruciais com seus filhos o quanto antes, como “eu acabo de ver o que parece ser claramente um zumbi, então você tem que ficar aí dentro”! Contudo, especificamente neste caso, em parte é por que sequer o termo “zumbi” é usado em The Walking Dead ou Fear The Walking Dead – apesar de ambos se passarem em um período onde, culturamente, todos saberiam o que é um zumbi*.

*[Nota do Tradutor: Segundo Robert Kirkman, no universo de The Walking Dead, que também é o de Fear The Walking Dead, não existem filmes ou a noção de mortos-vivos, logo a situação é totalmente inédita e cada grupo de sobreviventes os chamam de uma forma diferente.]

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Mas parte dessa incapacidade de compartilhar informações essenciais é apenas para o suporte dramático. Por que dizer “Eu vi pessoas comendo outras, então temos que dar no pé” quando pode-se falar “Não saia, eu te aviso quando estiver chegando”?

E por fim há o problema com as linhas temporais de cada série. Não haverá se passado muito tempo ao longo da 1ª temporada de Fear The Walking Dead, mas fica a reflexão de até quando a série poderá se manter até que o choque da novidade passe e o tempo siga para criar os zumbis apodrecidos, falta de mantimentos a paranoia entre os vivos que a série original possui.

O grande desafio de Fear The Walking Dead será empurrar tudo isso para frente e manter o foco nos primeiros dias do apocalipse de uma forma que faça parecer diferente, mas também igualmente original e divertido.

Mesmo se Fear The Walking Dead ficar sem criatividade, os produtores terão o consolo de que milhões de fãs ainda assim assistiram à série.

Conclusão: Cheio de obstáculos, mas também cheio de potencial dramático.

A 1ª temporada de Fear The Walking Dead terá estreia simultânea mundial no dia 23 de agosto e contará com seis episódios. No Brasil será exibido pelo canal de TV por assinatura AMC. Confira todas as informações no Guia de Perguntas Frequentes da série.

Resenha por: @BastardMachine, para o site THR.