Fear The Walking Dead, sendo uma extensão da série principal provavelmente não nos surpreenderá em termos de roteiro, pois já vivenciamos através dos olhos de Rick Grimes a maioria dos aspectos podres que uma sociedade decadente pode proporcionar em função do apocalipse zumbi.
Dito isso, devemos aceitar tal fato e aproveitar os pontos positivos que “The Walking Dead: Los Angeles” tem a nos oferecer. A proposta da primeira temporada de Fear The Walking Dead foi desvirtuada, porém houve bons conceitos que, sendo melhor explorados no segundo ano da produção, podem resultar em um construto geral mais consistente e interessante.
Será que “Monster” (S02E01) deixou uma boa impressão e principalmente uma boa perspectiva para o restante da jornada?
Muito mais do que mostrar conflitos com outros sobreviventes, zumbis ou qualquer outra ameaça a 2ª temporada de Fear deve desenvolver seus personagens, pois sentir empatia para com os mesmos é parte importantíssima na consolidação da audiência.
E “Monster” (S02E01) dá indícios que essa questão é uma das preocupações da produção nesse novo arco da série. Personagens enigmáticos como Strand entendem a necessidade do isolamento diante do fim do mundo, munindo-se apenas de pessoas as quais podem ser úteis de alguma forma. Seu descontrole com Alicia em função da possível revelação de informações sobre o destino de Abigail mostra que o personagem entende como as coisas funcionam em situações colapsais, assim como sua decisão de não abrigar mais ninguém em seu barco, mesmo que tenha abandonando uma série de pessoas que estavam em alto mar para uma morte certa. Óbvio, Abigail tem um espaço finito, mas mesmo que fosse maior provavelmente ele não cederia aos apelos de Madison, pois sabe o que é necessário para sobreviver, e as vezes esse elemento é o egoísmo e a desconfiança.
Travis também nos mostra que seu entendimento diante da situação é o correto. Ele abandonou seu pensamento politicamente correto e corroborou a decisão de Strand de deixar civis para trás, afinal, os recursos são limitados e eles não sabem quem eram aquelas pessoas ou do que seriam capazes. Em contraponto, Madison e Alicia ainda enxergam o melhor do ser humano, o que é bom, porém perigoso ao mesmo tempo. Travis incumbe Alicia de tentar encontrar algum sinal no rádio e assim ela o faz. Após conversar por algum tempo com um rapaz chamado Jack, ela começa a dar informações sobre o paradeiro de Abigail, mesmo que superficiais. Em certo ponto ela até oferece ajuda ao grupo do desconhecido, mostrando uma inocência não tão razoável dada a situação. No fim do episódio vemos um barco naufragado, com pessoas mortas, enquanto outra embarcação se aproxima de Abigail. Seria Jack membro de um grupo de saqueadores usufruindo da boa vontade de Alicia apenas para coletar mais recursos?
Ofelia e Daniel ficam em segundo plano nesse episódio, assim como Nick, que tem a mesma consistência da primeira temporada; suas frases são pontuais, mas muito bem escritas. Chris é um dos cernes do episódio, ainda lidando com a recente perda de sua mãe. O roteiro desde o começo escreve o personagem como um garoto revoltado, porém sensato quando orientado, e vemos essa nuance durante o capítulo.
Vimos também em “Monster” que a sociedade já ruiu e tudo aconteceu de forma rápida. Na season finale da 1ª temporada as estradas ainda estavam transitáveis e o número de zumbis era relativamente pequeno, já no começo desse episódio, que corresponde a uma sequência direta daquela cena, tudo está bem mais caótico, com muitos inimigos, explosões e aviões contendo a infecção através de bombas, assim como na primeira temporada de The Walking Dead.
O mar é um novo cenário e já tivemos uma pequena demonstração do que pode nos oferecer. O roteiro dá dicas de que os personagens têm alguns locais que podem ser o destino final, o que é interessante, pois a série anda lado a lado com o desenvolvimento dos personagens e um objetivo factível, ir para algum lugar.
Para finalizar, tenho certeza que ainda veremos muitas decisões conceituais que inevitavelmente se assemelharão a The Walking Dead, porém se o roteiro estiver bem escrito, coeso e com personagens desenvolvidos em bom nível, não há problema algum. Ser épico é bom, mas ser aceitável é melhor do que descartável.
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