Um dos comentários sobre a recém falecida Beth Greene, interpretada pela bela Emily Kinney, é que sua personagem era “inútil”. O que me fez parar para pensar um pouco sobre o quanto podemos ser idiotas quando vemos pessoas sofrendo de um ponto de vista confortável.

Por que eu digo isso? Simples, qual a primeira premissa de uma crise como um apocalipse zumbi? NINGUÉM ESTÁ PREPARADO!

Se os governos ruírem, se as forças armadas forem totalmente incapazes de manter um resto de sociedade, como vemos na série, quem disse que as pessoas tiveram chances de escolher com quem passariam por isso? Elas simplesmente se unem, por puro instinto de sobrevivência e porque nossas mentes são programadas a confiar em números para enfrentar problemas. Se você discorda, veja a diferença de uma pessoa sozinha entrando em alguma confusão e a mesma pessoa entrando em uma confusão com mais dez amigos dando suporte.

Se a sobrevivência a este ambiente altamente hostil não fosse a prioridade, porque teríamos, logo no começo da série, Merle e T-dog no mesmo grupo? Por que, mesmo com as eternas rusgas os dois se aturavam? Porque precisavam sobreviver, oras!

Falando nele, T-dog é outro personagem acusado de ser “inútil” dentro do grupo onde estava, mas sem ele, Carol e não se sabe quantos mais teriam morrido. Seu sacrifício se tornou indispensável para a sobrevivência do grupo.

Lembre-se: neste tipo de situação, sobreviver com o que está à mão é a palavra de ordem. Mesmo pessoas não combativas podem se fazer úteis de outra forma e, cima de tudo, as pessoas se adaptam às situações.

Tempo de aprendizado, adaptação e evolução.

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Carol Peletier na 1ª temporada de The Walking Dead

 

Vamos voltar à boa e velha primeira temporada. Olhando daquele ponto, quem daria alguma coisa pela Carol? Inútil, não? E quanto ao Carl? Um moleque chorão que só fazia besteira e chegou a ser responsável pela morte de alguns companheiros de grupo na segunda temporada. Outro inútil.

Agora na quinta temporada, você diria a mesma coisa sobre eles?

O grande diferencial de The Walking Dead é que não temos apenas policiais bombados e fodões ou femme fatales gostosas atirando em zumbis enlouquecida mente, seguindo um arremedo de roteiro (já temos Resident Evil e outros jogos e filmes cobrindo esta lacuna, obrigado). The Walking Dead é sobre pessoas normais. Poderia ser sobre seu vizinho, com todas as manias e defeitos dele. Poderia ser sobre o bombado de academia que hesitaria em atirar em uma pessoa e sobre a menina que sobreviveria do jeito que fosse, mesmo que fosse cativando um soldado para protegê-la.

Eugene é um excelente exemplo do caso “usar o que estiver à mão”. Ele não era capaz de se defender, mas era mais esperto que a maioria das pessoas, então usou sua inteligência para iludir um soldado sem motivação para viver, depois de sua família ter morrido, para que o protegesse. Moralmente isto é condenável, mas como estratégia de sobrevivência, foi excelente.

Outra coisa que muitos esquecem é que os zumbis e outras pessoas são só metade do problema. Como não enlouquecer dentro de um cenário como esse? Se capacidade de combate ou de conseguir comida e abrigo fossem as únicas capacidades que valessem à pena, porque idosos como Dale e Hershel se tornaram indispensáveis para os grupos? Porque eles oferecem estrutura psicológica e moral para seus companheiros.

Existem mais argumentos para repensar a qualificação de uma pessoa como inútil dentro de um ambiente hostil como capacidades técnicas, empatia, carisma, a capacidade de fazer com que as pessoas se tornem uma equipe funcionando bem e de forma a maximizar as chances de sobrevivência de todos.

Para finalizar: Antes de dizer que algum personagem de The Walking Dead é inútil, pense em tudo pelo que ele passou e avalie, sem fantasias ou exageros, se você seria capaz de suportar as mesmas dificuldades sem enlouquecer e se tornar um Governador ou um Gareth.