Brilhante e decepcionante: A ambiguidade do roteiro da 6ª Temporada de The Walking Dead

Trunfo, mas que também pode acarretar insucesso. A maneira que o showrunner da série, Scott M. Gimple, e os demais roteiristas, contam a história de The Walking Dead é capaz de elevá-los ao brilhantismo ou a insatisfação pública e especializada.

Essa percepção ficou bem evidente na primeira parte da 6ª temporada e ao longo destes oito episódios ficou o sentimento de ambiguidade descrito a seguir.

Brilhante

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Os primeiros quatro episódios da 6ª Temporada foram espetaculares, cada um com sua peculiaridade. O 1º episódio, “First Time Again”, notabilizou-se pelo roteiro inteligente, amarrando de forma excepcional as pontas soltas deixadas na season finale da 5ª Temporada.

Em meio a tal contextualização, o capítulo entrou, efetivamente, nos eventos que dariam início ao arco “No Way Out” – “Sem Saída”, oferecendo ao espectador tensão na medida certa e um bom nível de desenvolvimento contextual no que tange o roteiro.

Enquanto alguns personagens executavam o plano que afastaria os zumbis de Alexandria, outros permaneceram na zona segura, que no 2º episódio, “JSS”, não foi, absolutamente, nada segura. A ação, justificável e nada gratuita, foi o foco do episódio.

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Os Lobos, grupo de sádicos que matam com uma justificativa pífia, mas que deve fazer sentido em suas cabeças, chegam a Alexandria depois que encontram a rota para a comunidade através das fotografias na mochila do Aaron. A surpresa do ataque foi ótima, pois sem nenhum aviso prévio o massacre começa e Carol, destaque do episódio, inicia suas ações baseadas na sagacidade e tem papel importantíssimo na resolução do conflito.

Outro fato importante introduzido em “JSS” foi o embate ideológico entre Morgan e Carol, começando a evidenciar os dois extremos, que foi se agravando ao longo dos episódios.

Em “Thank You”, o 3º episódio, Glenn toma para si os holofotes e aí começa a se construir o maior mistério da temporada, que por fim mostrou-se desnecessário. Mas o episódio em si foi ótimo, com tom de despedida e vários sinais implícitos sobre o personagem que normalmente indicam sua saída da série. As dinâmicas entre Heath e Michonne também foram interessantes, assim como a pseudo redenção de Nicholas.

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Já no 4º episódio, “Here’s Not Here”, vivenciamos os acontecimentos dramáticos do passado envolvendo o personagem Morgan. Talvez um dos melhores episódios da série, inteiramente focado na contextualização do personagem em pouco mais de uma hora, com uma carga dramática pesada e ótimos simbolismos. Além de sermos brindados com a grata surpresa de Eastman. A explicação do por que Morgan se tornou um pacifista beirou a perfeição graças ao roteiro do Gimple.

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Esses quatro episódios se passaram na mesma linha temporal (desconsiderando o flashback do 4º episódio), porém mostravam pontos de vista diferentes e mais uma vez, como vem sendo característica dos roteiristas, separando os personagens em núcleos.

Toda a construção desses primeiros quatro episódios estavam tornando a 6ª Temporada a melhor da série até aqui, tanto pela ação, como pelo desenvolvimento dos personagens, além da adaptação direta dos quadrinhos. Mas a partir do quinto episódio a série se tornou…

Decepcionante

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Depois de três episódios de tirar o folego e um de contextualização, era esperada uma calmaria. Afinal, a ação só tem impacto se não é constante. É necessário o roteiro nos fazer respirar antes de novos grandes eventos.

E foi o que vimos em “Now”, o 5º episódio, focado em Alexandria, explorando a culpa do Aaron e a vontade inconsequente, que posteriormente se tornou uma ação inteligente, da Maggie em sair para procurar seu esposo.

O episódio teve bons pontos, assim como todos, mas pensando de forma fria, não acrescentou nada a história em termos de evolução. O roteiro desse episódio não foi escrito pelo Gimple.

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Depois de um episódio medíocre, o 6º episódio, “Always Accountable”, prometia, através de seus vídeos promocionais, um maior destaque de um dos personagens mais queridos da série, Daryl. Porém a situação envolvendo Daryl, sua captura, também mostrada no trailer da 6ª Temporada, foi encerrada tão rápido que mal teve peso para o todo.

A interação entre Abraham e Sasha foi desnecessária, pois foram abordados pontos já resolvidos em seus diálogos, além da inserção de novos personagens importantes para a história, como Dwight, ter sido executada de uma forma errônea, pois apenas os leitores dos quadrinhos entenderam as cenas e conseguiram aproveitar o episódio da forma correta. O roteiro desse episódio também não foi escrito pelo Gimple.

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O Glenn estava vivo, pasmem. Essa foi a “grande revelação” de “Heads Up”, o 7º episódio. Personagens muito mais importantes morreram anteriormente na série e tal mistério nunca foi necessário.

Esse artifício gerou debate, discussões e muita comoção, mas no fim o que acrescentou na história? Nada. Um mês para revelar o que todos já sabiam, vide que vazaram várias fotos do Glenn contracenando inclusive com um novo personagem que será inserido, Jesus.

Durante um mês inteiro a equipe de produtores, diretores e roteiristas davam a entender que Glenn estava vivo. E depois morto. Vivo. Morto. Por quê? Nesse episódio tivemos Rick abusando de atitudes não condizentes com o personagem, além do roteiro criar um clima para um embate sério entre Carl e Ron, que foi pessimamente aproveitado. Mais uma vez, o roteiro desse episódio não foi escrito pelo Gimple.

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Quatro episódios acima da média e três medíocres. Na mid-season finale, o último episódio do ano, a expectativa era que todas as construções mal feitas dos últimos episódios teriam uma resolução a altura. Não foi isso que aconteceu.

“Start To Finish”, o 8º episódio, foi uma mid-season finale boba, com toda a ingenuidade e conotação que a palavra carrega. Conceitos foram rascunhados, mas não foram executados. Nada aconteceu com Carl ou Jessie, o arco “No Way Out” dos quadrinhos em si não foi bem aproveitado e as atitudes de alguns personagens, em especial Carol, Morgan e Carl foram totalmente sem contexto. O muro de Alexandria caiu, mas não aconteceu absolutamente nada. E, pela quarta vez, o roteiro desse episódio não foi escrito pelo Gimple.

Foi brilhante, mas decepcionou. E agora, ambiguidade?

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Primeiramente é inevitável comparações, pois a série baseia-se na HQ. Dito isso, o arco dessa primeira metade foi mal desenvolvido. Nos quadrinhos, o acontecimento em si, os zumbis cercando Alexandria, dura mais tempo e traz consigo mais sub-arcos dramáticos.

Na TV tudo aconteceu em um período de cerca de 24 horas. Os últimos quatro episódios pouco acrescentaram na história e trouxeram uma sensação de filler, fato que acontece em todas as temporadas, mas que é melhor distribuído. Por outro lado, os primeiros quatro episódios figuram, seguramente, entre os melhores da série, dois deles foram escritos por Scott Gimple, diferente da parte final, que “apostou” em outros profissionais.

A parte final da mid-season finale começou a nos apresentar um novo conceito no universo The Walking Dead – Negan e os Salvadores. Mas diante de tanta subversão de expectativa, o que podemos esperar do restante da temporada? Retifico. Devemos esperar algo realmente surpreendente já que um dos melhores arcos dos quadrinhos foi “desperdiçado”?

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Fernando Floriano
Fernando Florianohttps://www.arkade.com.br/author/fernando_floriano/
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