The Walking Dead: um mundo cheio de piratas do século 21

Num canto qualquer do Huffingtonpost.com, que tem uma sessão de discussão sobre The Walking Dead, pessoas debatiam, em comentários, que a série dá muitos sinais de que muitos personagens são piratas.

Citam, então, uma fala do Governador, dizendo exatamente isso:  “Bem… Eu sou um pirata”. Mostram uma imagem dele no chão, barbudo ao extremo e debilitado, com a imagem de um papagaio ao fundo. Da maneira em que está, parece que a ave está no ombro dele. Como os piratas do cinema imortalizaram. Engraçado. E, claro, o tapa-olho completa o figurino.

Outros fizeram questão de se lembrar de Merle. Depois que teve a mão cortada fora e implantou uma espécie de gancho, bingo… Era o Capitão Gancho em pessoa.

Há, ainda, quem tenha se lembrado da perna a menos de Hersel. O “pirata da perna de pau”. Não tinha o pau, evidentemente, mas que se dê asas para a imaginação.

Todas associações, evidentemente. É difícil acreditar que exista uma espécie de fixação por piratas nas mentes de Kirkman, Darabont e Gimple. Pode até haver, mas não parece ser o caso usar a série para expressar esse tipo de manifestação inconsciente. As pessoas tratam alguns fatos, como o do papagaio no ombro do Governador, mais como easter eggs do que qualquer outra coisa. Faz sentido.
Mas pare para pensar, caro internauta. O que são, afinal, os sobreviventes do caos em The Walking Dead? Ou, então, no que se transformaram? Para sobreviver naquelas condições, como o drama televisivo nos mostra, muitas vezes existe a necessidade, sim, de evocar comportamentos muito, mas muito mais primitivos.

Para dar sequência ao dia a dia, ensinam, é preciso encontrar um lugar seguro, mesmo que este já esteja ocupado. Se existe a possibilidade de se “tomar” aquilo, que assim seja. Rick Grimes nos ensina isso da maneira mais prática possível, quando, na quinta temporada, deixa bem claro que as pessoas de Alexandria podem ser boas e pacíficas, mas, se for pela sobrevivência do grupo, oras, que se tome Alexandria.

The walking dead 5 temporada s05e15 rick vs deanna

Há de se saquear mercados, mercearias, hospitais, lojas de departamento, farmácias, o que quer que seja. Tudo bem, se estão vazias, sem dono, com mercadorias expostas e fadadas à podridão, que se faça uso delas, antes que o tempo se encarregue de torná-las ainda mais inutilizáveis. Mas todo mundo está em busca de lugares assim.

Por fim, há sempre a figura do líder. O pastor do rebanho. O cara que vai fazer de tudo para proteger os queridos, sem se preocupar muito com os meios para isso. O cara que vai passar por cima de quem quer que seja, porque que sobreviva o mais forte. É matar ou morrer.

O mundo de The Walking Dead tem tantos piratas quanto zumbis. Mas isso é parte da conquista, de se estabelecer uma nova civilização, de viver num mundo que precisa desse tipo de comportamento. É verdade. Mas não é isso o que os piratas faziam, afinal, navegando pelos mares em busca de navios perambulando pelos oceanos ou de costas desprotegidas esperando apenas que alguém atracasse ali para serem povoadas?

Na essência da coisa, e em se tratando de um mundo fictício, evidentemente, é assim que é. Os piratas do século 21 podem ter mudado a aparência e os objetivos finais, mas continuam se comportando como tais. Às vezes, o que acontece é que isso passa despercebido por muita gente. Ninguém avalia esse tipo de postura, porque, primeiro, é uma série de TV. O objetivo é entretenimento, mas, sabemos, muitas vezes a coisa pode nos levar a uma reflexão. Segundo, porque o termo “pirata”, desde sempre, vem associado ao vilão, ao cara mau, mas um líder que tem de fazer coisas não muito ortodoxas para sobreviver, às vezes, age dessa maneira, sim.

Não nos damos conta porque esses caras usam botas transadas, camisas de botão, dirigem carros modernos e ostentam metralhadoras para amedrontar. Mas, de vez em quando, uma coisinha ou outra é suficiente para que a associação fique mais clara às vistas despreparadas. Um tapa-olho, uma perna de pau, um gancho na mão, um papagaio no ombro… Esses caras, os de ontem e os de hoje, às vezes, são mais parecidos do que a gente imagina…


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Plinio Rocha
Plinio Rocha
Jornalista, 38 anos, paulistano. Quando os zumbis tomarem conta, vai preferir o arco e flecha a um revólver. Acha que Rick e Shane poderiam ter se sentado e tentado resolver o triângulo amoroso. Ou não.

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