Covardia.

Muita, mas muita gente, mesmo, definiu o fim da sexta temporada de “The Walking Dead” com essa palavra.

E é completamente compreensível.

(Nota do autor: se você, caro leitor, não viu o episódio ainda, não quer spoilers, continuou aqui mesmo depois do aviso do título, sugiro que interrompa a leitura imediatamente. Avisos não faltaram.)

A aparição de Negan era, sem dúvida, o momento mais aguardado pelos fãs da série. Os que leem o quadrinho e, por isso, já conheciam o vilão, têm motivos de sobra. Mas mesmo para quem não lê, o show de TV foi, aos poucos, introduzindo o personagem, criando um ambiente de extremo suspense para o momento.

Muito disso, claro, por ele ser quem é. Para muitos, um dos melhores personagens da história da franquia, apesar de surgir “apenas” na sexta temporada. Mas, principalmente, por aquilo que viria com ele na cena inicial.

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O monólogo de Negan, na TV, foi muito fiel ao que se leu no quadrinho. Sempre existiu a preocupação de não fazer dele uma metralhadora giratória de palavrões, como nas HQs. Isso, de certa forma, é frustrante? Sim. Mas é necessário. A televisão tem suas regras e suas condições para existir. Foi necessário se adaptar, e OK, dá para conviver com isso.

O que pegou, mesmo, foi a série não mostrar quem recebeu o beijo de Lucille. Mas, aqui, dá para encarar a situação de duas maneiras distintas. Cada uma delas, evidentemente, vai agradar a um certo número de pessoas, por mais que a vertente dos que gostariam de ter visto um corpo estirado no chão com miolo de cérebro espalhado para todo lado seja, ao que parece, maior.

Primeiramente, a coisa foi como foi por um único motivo: negócios. Há uma frase de uma música de uma banda de rock progressivo, o Queensrÿche (que já se separou, foi uma baita confusão, mas não vem ao caso aqui), que diz: “Business, the american way”. Na tradução livre: negócios, o jeito americano de ser.

E é isso. Da maneira que foi, os produtores conseguiram com que se fique seis meses falando de TWD sem que a série esteja no ar. E bingo, conseguiram! É evidente que, neste momento, a comoção é muito grande na internet. O sangue que escorreu da cabeça da nossa querida vítima anônima está muito quente e fresco. E a internet reage imediatamente a coisas assim, os sites e portais estão repercutindo o acontecimento de todas as maneiras possíveis.

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Quem morreu? Foi o mesmo personagem dos quadrinhos? Como foi? A sétima temporada vai começar imediatamente mostrando a cena e revelando o pobre coitado visitado por Lucille? Teremos ângulos? Rick ou mais alguém vai reagir?

Todas perguntas para as quais vamos procurar respostas. Até outubro. Outubro! E, repetindo, se o objetivo era manter a série em alta, a bola quicando por longos seis meses, voilà! Ele parece ter sido atingido com maestria. Lembre-se: “Business, the american way”.

Mas poderia ter sido diferente. Os produtores poderiam ter revelado quem morreu. Negan poderia ter desferido o golpe fatal para que todos os espectadores vissem. Seria dramático, assustador, desesperador. Seria histórico.

E seguem-se outras perguntas: será que eles acharam, mesmo, que valia a pena abrir mão desse momento tão especial para os fãs? Será que eles acharam que vai ser a mesma coisa, depois, recapitulando no começo da sétima temporada? Será que, no fundo, eles estão querendo ganhar tempo, porque, afinal, acontecimentos de bastidores podem até mudar ou definir o destino do tal desmiolado? Vai que a ideia era matar fulano, mas pudesse ser beltrano, e no final ficou conveniente dar um adeus para cicrano?

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Uma coisa certa: talvez fosse mais honesto com os fãs. Sim, seria um fim de temporada inesquecível, talvez o melhor da história. Uma temporada, aliás, que começou de maneira arrebatadora, que teve uma trama interessantíssima, momentos de suspense, mortes se não tão significativas, importantes. Uma reta final de temporada que construiu um ambiente perfeito para a chegada de Negan. Um ator que mandou bem na interpretação, que vomitou um monólogo sensacional que será visto e revisto muitas vezes.

Todo mundo podia ter visto quem morreu. E a coisa se manteria em alta tranquilamente. Todo mundo ia querer ver, de qualquer jeito, as reações no começo da sétima temporada. Como Rick se comportou. Como as pessoas se comportaram com a perda. Se foi um personagem mais antigo, como Glenn, Daryl ou Carl, e aí? Se foram caras mais recentes, mas já importantes, como Michonne, Abraham, Maggie ou Sasha, como ficamos? Se foi alguém que as pessoas consideram mais “descartável”, como Aaron, Eugene ou Rosita…? Se fosse o próprio Rick (OK, OK, parece impossível ser ele, até pelo que Negan falou, mas era importante citar)?

A continuação da série não perderia em absolutamente nada se a sexta temporada não deixasse essa dúvida.

Mas ela deixou. Ponto-final.

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A questão é que, mesmo quem jura de pés juntos, hoje, que não, todo mundo estará na frente da televisão, em outubro, sem piscar esperando por essas respostas todas. Odiando ou amando. Concordando ou discordando. Disposto ou não a continuar se chamando de fã incondicional.

Todo mundo, desde hoje, só pensa em uma coisa: quem Lucille acertou? Veremos na TV as cenas dos quadrinhos? Se não, como será o fio condutor, daqui para a frente?

Parabéns, produtores. Mesmo talvez errando, talvez vocês tenham acertado.

Business, the american way. Business, The Walking Dead way.