“Dead or Alive Or” não teve nenhum erro imperdoável em termos de direção e o roteiro, ou seja, não foi calamitoso. Mas este episódio de The Walking Dead foi inegavelmente um filler.

O problema de existir tantos núcleos com pouco desenvolvimento individual é que sequer lembrar de todos os personagens se torna difícil, pois o intervalo entre suas aparições é enorme. Um exemplo disso é Jesus que é citado neste episódio, contudo não aparece há muito tempo.

O foco do episódio é em Gabriel e sua jornada espiritual em busca de um propósito existencial. Muitas de suas ações pautados em fé o levam a um lugar benéfico, como por exemplo aquela casa na qual encontram os antibióticos. Todo o episódio é permeado por esses ‘sinais divinos’ que reforçam a crença do personagem.

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O foco no divino só é interrompido quando o Dr. Carson morre diante do padre, fato que possivelmente trará questionamentos espirituais para Gabriel. Aliás, uma das coisas ruins do episódio foi a maneira que dirigiram a cena da morte do doutor, pois foi filmado pela perspectiva turva de Gabriel e quando Carson é alvejado a cena se torna confusa.

Outro confronto óbvio é o de Tara e Dwight. Duas temporadas atrás vimos que Dwight matou a namorada de Tara, Denise, e é esperado haver sentimentos de ódio e ressentimento, mas Tara vem assumindo o papel intempestivo que era de Rosita de forma muito abrupta. Por sua vez, Rosita está muito mais ponderada e exerce um papel importante para o equilíbrio do grupo.

O problema não é a mudança de personalidade dos personagens, mas mudanças abruptas me fazem questionar se o roteiro não está adaptando suas necessidades aos personagens. Ou seja, o roteiro precisa de alguém intempestivo e essa característica é atribuída a alguém que não natural. Dwight por sua vez mantém-se coeso e continua em sua saga de ajudar Rick e seu grupo a derrotar Negan. Austin Amelio continua fazendo um papel interessante e entregando boas atuações.

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No fim, Tara percebe que Dwight realmente está do seu lado e talvez isso faça com que ela esqueça momentaneamente sua vingança pessoal. Outro adendo é: sempre algum personagem coloca sua vontade pessoal acima do bem-estar coletivo. Isso sempre acontece e pode-se considerar normal em função da psique humana, mas é bom estarmos atentos porque isso facilmente pode ser convertido em uma muleta narrativa. Afinal, sem confronto não existe série, não é?

Em menor proporção tivemos Eugene com uma certa dualidade ao ficar hesitante por alguns momentos quando Negan menciona que matará Rick e seu antigo grupo. Mas quando lhe é dado uma carga de responsabilidade e, especialmente, liderança com benefícios, Eugene não tem vergonha de usufruir do poder. Mas não vejo outro desfecho para o arco do personagem a não ser redenção. Me surpreenderia muito se não voltasse ao ‘lado do bem’ através de um sacrifício ou ação catártica.

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É interessante ver Daryl em um papel de liderança e sua cobrança diante da atitude de Tara mostra como ele pode ser importante para o grupo desde que esteja focado. Em outros momentos não tão longínquos ele não seguiu os planos de Rick e acabou comprometendo as ofensivas contra Negan, mas quando ponderado é de grande valia.

Em Hilltop temos Morgan e Carol com a dinâmica já conhecida e a adição de Henry à equação. Na mesma medida em que Morgan acha que endurecer o garoto é vital para sua sobrevivência, Carol destaca o quão mais importante é que ele não perca sua inocência, se é que isso é possível, e se manter alheio a tudo que está em seu envolto.

No fim Morgan não perpetua sua crença e dá razão a Carol dizendo que o responsável pela morte do irmão de Henry era Gavin e que a justiça já havia sido feita. Também na comunidade tivemos reações mais concretas em relação à morte de Carl por parte de Maggie, Carol e Enid. A morte do Carl teve pouquíssimo peso em termos de drama, então é bom ver um pouco mais desse suposto luto.

E por fim, Maggie continua seu crescente como líder e personagem. Suas decisões são difíceis e buscam o melhor para seu povo, mas também não trata de forma desumana seus prisioneiros. De todos os supostos líderes é a mais consistente, mesmo que sua participação na série seja irrelevante em tempo de tela e no peso da trama de forma geral.

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O final é um pouco confuso, mas diz respeito a uma passagem dos quadrinhos na qual armas brancas eram untadas com sangue dos zumbis para que se o ferimento ao oponente não fosse fatal ao menos o infectaria. É uma jogada interessante, mas se isso de fato ocorrer será um furo de roteiro enorme, pois por mais de uma vez Rick se feriu e foi exposto ao sangue contaminado e nada ocorreu. Óbvio que o protagonista não pode morrer de forma tão simplória, mas se as regras do mundo funcionarem para um e não para outro a verossimilhança se perde totalmente.

“Dead or Alive Or” não é um erro crasso na história de The Walking Dead, mas sua relevância é ínfima e no fim serve apenas como um episódio de transição. Apesar de pincelar bons temas o 11º capítulo da 8ª Temporada não os desenvolve e no fim tudo termina como começou.

Nota: 5/10

Aviso: As críticas serão publicadas entre segunda e quarta-feira. Para sugestões de pauta e discussões mais aprofundadas sobre os episódios podem me contatar através do E-mail: [email protected] ou pelo Twitter @ferflorianoo.

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