A panela de pressão segue em alta fervura. Os ânimos definitivamente se afloraram e a estabilidade entre as comunidades desmoronou. O projeto de reconstrução da civilização (e civilidade) encabeçado por Rick Grimes esbarra naquilo que já esperávamos: O Homem. Algumas pessoas , infelizmente, não são capazes de se ressocializar e muito menos sanar seus vícios, destruindo tudo a sua volta.

Com uma boa trama, porém menos promissor que seu episódio antecessor, Warning Signs cria e desvenda mistérios sem enrolação e revela até mesmo curiosidades de temporadas passadas, mas deixa um amargor, uma estranha sensação de que faltou algo.

O ambicioso projeto de reconstrução da ponte, capitaneado por Rick e seus generais à custa do suor e esforço dos Salvadores em troca de “proteção” enquanto trabalham, está enfrentando graves problemas internos de relacionamento. A misteriosa morte de um Salvador coloca tudo na mesa, uma vez que, justamente o que Rick lhes promete é segurança, logo, o estopim de uma rebelião teve o lastro necessário.

A irreverência deste episódio é que ele tem um começo interessante, um meio com uma  narrativa um tanto quanto morna e arrastada e um final que empolga, revelando que algo grandioso vai acontecer na sequência. Um roteiro complexo, que apresenta falhas e acertos simultaneamente.

The walking dead rick publicity still h 2018

Enquanto Rick tenta lidar com todo esse imbróglio estressante, algumas coisas paralelas vão se moldando e se revelando. Temos Carol, aparentemente, comprando a ideia do Rick de unir todas as comunidades, Daryl e Maggie cada vez mais determinados a se rebelarem contra essa ideia, as garotas de Onceanside tendo sua (merecida) sede de vingança e Jadis/Anne mostrando que sua redenção não passava de um embuste, tomando para si novamente a pecha de vira-casaca.

Finalmente descobrimos quais eram as reais intenções do grupo do lixão (in memoriam) quando faziam prisioneiros em sua comunidade, ou negociavam pessoas como “pagamento” em troca de auxílio na Guerra Total, como foi visto naquela negociata caricata entre Jadis e Negan no longínquo 07×16 (até hoje eu me perguntava o que a Jadis queria com 11 Salvadores?!).

Pessoas para o grupo de catadores eram a moeda de troca com a “Comunidade do Helicóptero”, buscando generosas recompensas para sua manutenção, e nesse ponto o roteiro acertou em cheio, deixando em aberto uma trama que pode colidir com o grupo mais adiante. Só não foi de bom tom sua investida contra o Padre Gabriel, um tanto quanto forçada, trazendo aquele vazio novamente a personagem que demonstrava traços de evolução dentro da trama, um belo desperdício.

The walking dead s09e03 foto oficial 06 anne gabriel

Descobrimos também que, quem estava por trás da morte de Salvadores eram as garotas de Onceanside, em busca de sua vingança após o saudoso e psicótico Simon decretar a morte de todos os homens de sua comunidade.

Foi interessante ver um mistério surgir e se revelar num mesmo episódio, mas a ideia foi mal aproveitada, cuspida na audiência sem a devida construção, e no final uma carga dramática forçada para justificar tais atitudes, bem como lembrar aos espectadores o mal que aquelas mulheres passaram nas mãos dos odiosos Salvadores. Aqui o o roteiro pecou na afobação e descomprometimento.

Por derradeiro, o ponto que considero ter salvado esse episódio (e a sua nota): A dobradinha final entre Daryl e Maggie, com o início do levante descarado contra Rick e suas ideias. O que até então era apenas uma sombra que estava à margem da trama, finalmente tomou forma e agradou.

Maggie por sinal está sendo a melhor personagem desta temporada. Seus sentimentos transmitem veracidade, a ponto de torcermos por quem está indo contra o protagonista da série. Daryl, que estava calado nas últimas temporadas, está voltando a ser aquele antigo personagem, marcando presença e agindo com firmeza. O diálogo final entre eles, onde ela decide finalmente se encontrar com Negan, somado ao trailer do próximo episódio, tiveram um resultado positivo e conseguiram empolgar.

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Mais uma vez estamos nos deparando com falha de roteiro. Não é de direção, muito menos atuação. Esse episódio é o exemplo de como boas ideias construídas conseguem ter seu crescimento prematuramente ceifado e de maneira nada inteligente por má condução dos roteiristas.

Contudo, o balanço final até esse terceiro episódio ainda é positivo. A narrativa desta temporada está acima da anterior e o potencial que tem em mãos é gigantesco, mas para que a fórmula dê certo é necessário otimizar o roteiro, deixá-lo mais orgânico, preciso e não ter medo de ousar e inovar. Dois pontos que há muito não se vê pelas bandas de cá.

Nota: 7,0